O machismo nosso de cada dia e seu impacto nas eleições

O machismo nosso de cada dia e seu impacto nas eleições

Vivemos tempos muito conturbados no Brasil em época de eleição presidencial polarizada por extremismos. O tema política não é o meu predileto e nem pretendo tratar dele por aqui, mas diante do cenário atual é impossível não falar de um dos piores preconceitos que existem e seus reflexos nesta eleição: o machismo nosso de cada dia.

Acredito que todas as nossas ações diárias são atos políticos – desde da comida que escolho colocar na minha mesa, a roupa que visto pela manhã, a forma como trato as outras pessoas (aquela velha história de cumprimentar o porteiro e outras pessoas que desempenham papéis considerados pela sociedade como “menores”, mas que são essencias – basta pensar em uma greve de lixeiros e dá pra perceber que com certeza a função do lixeiro não é “menor” que outras) e assim por diante.

Ainda não defini em quem votarei – com as opções de candidatos que temos a escolha é extremamente difícil – mas sei em quem não votarei em hipótese alguma e um dos principais motivos para não votar nele é exatamente sua postura mais que machista como “mulher deve ganhar menos porque engravida”.

Até pouco tempo não acreditava que sua candidatura teria força alguma, afinal mulher não votaria em alguém que diz que a única filha que tem foi uma “fraquejada” no entanto até o momento ele lidera as pesquisas de intenção de votos e muitas mulheres declaram apoio ao candidato (e eu conheço várias!).

Precisamos mais do que nunca falar sobre o machismo, pois machismo mata e muito no Brasil. Basta acompanhar o noticiário para saber dos mais diversos casos de feminícidio (ah, o candidato em questão acha besteira usar o termo feminícidio para crimes contra mulheres, na cabeça dele é tudo homicídio). Segundo o relógio do Instituto Maria da Penha a cada 2 segundos uma mulher é vítima de violência física ou verbal.

E segundo um estudo do CNJ – Conselho Nacional de Justiça uma em cada 100 mulheres abriu ação judicial por violência doméstica em 2017 e apenas 5% dos processos por agressão doméstica tiveram andamento. Todos sabemos que nem toda mulher procura a polícia mesmo sofrendo em um relacionamento abusivo, até porque muitas vezes, elas nem percebem que vivem com o inimigo – quando o relacionamento abusivo é psicológico, sem agressão física – muitas acham que é apenas o jeito do companheiro. Nas classes mais altas muitas não denunciam para evitar escândalos.

Nem sempre o machismo acaba em morte, mas ele sempre deixa traumas em quem sofre simplesmente por ser mulher.

Sempre acreditei que o machismo não acaba porque infelizmente muitas mulheres são machistas já que somos nós, mulheres, as principais responsáveis pela educação das crianças e se o machismo continua arraigado é porque estamos alimentando o preconceito, mesmo que inconscientemente.

É a velha história da criação diferente para meninos e meninas. Menino não precisa ajudar nos afazeres domésticos afinal são homens, meninas precisam ser vaidosas e femininas, e assim caminha a humanidade, poderíamos ficar horas dando exemplos do machismo cotidiano, mas o importante neste momento é percebermos aonde estamos errando, porque estamos deixando que após tanta luta, mulheres e homens estejam nem aí para os direitos que outras que vieram antes batalharam tanto para conseguir (inclusive votar).

Faz tempo que percebo o machismo de algumas mulheres – e como me incomoda –  inclusive defendendo homens que batem em mulheres como no caso de Luísa Brunet (ela provocou, ela mereceu). Nunca, em hipótese, uma mulher merece apanhar. Nada justifica um homem bater em uma mulher.

Eu já meti muito a colher em relacionamentos abusivos e não me arrependo, pelo contrário, deveria ter metido a colher mais vezes.

Mas mesmo eu sendo feminista algumas vezes me pego agindo de forma machista – como por exemplo julgar uma mulher pela roupa que está vestindo ou chamar uma desafeto de vadia. Incrível como para desqualificar uma mulher sempre apelamos falando de sua vida sexual ou de sua aparência.

Fomos educadas escutando que mulheres competem uma com as outras, que não somos unidas, que não somos amigas de verdade. Será mesmo que nós, mulheres, não podemos ser unidas? A quem será que interessa manter as mulheres disputando uma com as outras? Ele, o machismo.

#elenão, #elenunca #elejamais #juntassomosmaisfortes

No entanto, há também algo a se comemorar neste processo eleitoral: milhares de mulheres se uniram em um movimento lindo com o objetivo de não deixar o candidato chegar ao poder. #elenao #elenunca #juntassomosmaisfortes

Ainda temos alguns dias até a eleição e desejo do fundo do meu coração que este movimento lindo (do qual também faço parte) consiga alcançar seu objetivo e levar a sociedade a refletir de verdade sobre as questões dos direitos das mulheres – ainda temos muito para conquistar – incluindo alguns que deveriam ser resolvidos dentro das casas das famílias – a distribuição igualitária dos afazeres das casas, com maridos e pais que realmente dividam os serviços domésticos e os cuidados com os filhos e que não sejam elogiados por fazerem aquilo que também é obrigação deles.

“Não se nasce mulher, torna-se” 

Como dizia Simone de Beauvoir, uma das minhas musas inspiradoras (li o Segundo Sexo ainda adolescente e tive absoluta certeza que a causa feminista é a minha causa e que nunca, em hipotése alguma, me sujeitaria a abrir mão de lutar por meus direitos e de todas as mulheres):

“Não se nasce mulher. Torna-se.”

E também dizia: “O opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos”

e ainda: “Nunca se esqueça que basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados. Esses direitos não são permanentes. Você terá que manter-se vigilante durante toda a vida”.

Que a gente consiga reverter este quadro do machismo nosso de cada dia e que as mulheres se unam cada vez mais em busca dos seus direitos assim como mulheres fantásticas que vieram antes de nós fizeram por elas e por nós! Quando uma mulher se cura ela cura também suas ancestrais e suas descendentes.

O feminismo não é o ódio aos homens, o feminismo é a busca da tão falada equidade entre os sexos, do equílibrio entre homens e mulheres. Nós podemos sim caminhar juntos e lutar por uma sociedade mais justa, igualitária e humana para todos independente de sexo, raça, gênero, classe social!

#machismonao #girlpower #feminismo

E pra fechar em clima otimista, volto para Simone de Beauvoir:

“Que nada nos defina, que nada nos sujeite, que a liberdade seja a nossa substância”