Representatividade importa! Conheça Vilma Queiroz, idealizadora do Festival Literário Pretinhas

Representatividade importa! Conheça Vilma Queiroz, idealizadora do Festival Literário Pretinhas

Quem acompanha o Suzanices aqui ou no instagram sabe que um dos temas que fazemos questão de falar é sobre representatividade, principalmente quando são resultado do trabalho sério de mulheres que não desistem e se empenham em levar para a população conhecimento e representatividade.

Hoje vamos contar a história de Vilma Queiroz, mulher negra, professora aposentada, que hoje atua com produção cultural e também como modelo plus size. Vilma é afrontosa, rompe padrões e mostra a força que nós mulheres temos. No ano passado já publiquei sobre a Vilma Queiroz aqui Dia da Mulher: conheça a fascinante história de Vilma Queiroz (suzanices.com.br)

E agora em fevereiro acontece a primeira edição do Festival Literário Pretinhas idealizado por Vilma Queiroz.

O 1° Festival Literário Pretinhas é uma realização da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo com apoio do Proac, Poeisis, Fábricas de Cultura e produção e direção de Vilma Queiroz Produções Culturais e Renata Poskus Eventos e Comunicação. O evento tem o objetivo de incentivar a leitura infantojuvenil e contribuir para que crianças negras se sintam representadas nos livros. A primeira edição acontecerá nos dias 23 e 24 de fevereiro de 2024, na Fábrica de Cultura da Cachoeirinha, na Vila Cachoeirinha.  

Vilma Queiroz, idealizadora do Festival Literário Pretinhas, conta um pouco da sua trajetória de mulher negra e a importância da representatividade na sua vida pessoal e também como professora.  

Desde cedo Vilma já gostava de ler, mas não tinha muitos livros e no quarto ano do antigo Primário (Ensino Fundamental) fez o cadastro na Biblioteca Municipal para poder ler mais. Na época poucos livros traziam personagens negros, ou eram escravos, empregados como Tia Anastácia ou personagens como o Saci ou o Negrinho do Pastoreio.

“Na década de 70 a literatura infantojuvenil invisibilizava os negros. Os livros davam asas aos meus sonhos, porém em outros corpos, não existia semelhança nos cabelos, rosto e muito menos na cor da pele.”, destaca Vilma Queiroz. 

E ela complementa: “Há 50 anos não se pensava em mostrar negros, mas as atitudes discriminatórias e racistas apareciam no cotidiano e eram muitas. Várias vezes falaram mal do meu cabelo, da minha boca, da cor da minha pele, me xingando, ofendendo e eu não tinha voz, poucas vezes levava o assunto para casa ou para a professora. A falta de livros com personagens parecidos comigo era algo latente.” 

Como professora Vilma Queiroz criava histórias com personagens negros para que as crianças se sentissem representadas: “ Há uns 30 anos você quase não encontrava referências negras, até imagens de pessoas negras em revistas era dificil de achar. Foi a partir da implementação da lei 10.639/03 que começamos a ter mais livros que nos representam e assim pude trabalhar com eles em sala de aula e indicar como bibliografia.”

Sobre a criação do Festival Literário Pretinhas Vilma Queiroz declara: “Depois da família a escola é o principal ambiente social onde a criança pode se ver, falar sobre o que pensa e sente, aprender, conhecer melhor a si e ao outro, também é o lugar onde ela pode encontrar atitudes racistas e na escola temos os livros. Os livros te permitem dar voz a seus pensamentos, sonhos, desejos e estas leituras auxiliam a elevar a autoestima de cada um. Com o Festival Literário Pretinhas, além de realizarmos um movimento de valorização da poesia e da fala das pessoas pretas na escola, buscamos promover o acesso a literatura afro-brasileira, incentivamos a leitura de livros com autoras negras, oportunizamos dinâmicas/oficinas a partir de leituras potencializando a participação de crianças e adolescentes chamando para o empoderamento principalmente as meninas negras e estimulamos a economia criativa através da participação de 20 autoras e expositoras negras que mostrarão seu talento na literatura de uma forma acessível.”

O foco principal do Festival Literário Pretinhas é nas meninas pretas, mas as atividades do evento estão abertas para todos. Sobre a escolha em ter as meninas pretas como público-alvo principal, Vilma conta: “ Temos que estimular mais meninas e adolescentes pretas a se verem protagonistas de suas histórias e com literaturas que envolvam mais valorização, igualdade de oportunidades de fala, de educação, de emprego. Dignidade e empoderamento fazem com que elas acreditem em um mundo melhor.”

E completa: “ Nossa expectativa é que meninas e adolescentes estejam presentes no evento e se sintam protagonistas. Também queremos que meninos, jovens, adultos de ambos os sexos participem das atividades e vejam os diversos momentos de valorização da cultura afro-brasileira através da literatura e das ações realizadas nas oficinas com as arte-educadoras também pretas agregando mais elementos a esta representatividade.”

“Na minha infância não tive oportunidade de ler livros que tivessem alguém que me inspirasse com características físicas iguais as minhas. Isto fez com que eu demorasse a ter voz, gerando angústia, sofrimento, mas o importante é que consegui vencer!

Hoje temos, com o Festival, a possibilidade de promover a representatividade através da leitura, possibilitando além do mergulho na literatura, a beleza, a valorização, a potência que cada uma é. E como disse Conceição Evaristo ‘O importante não é ser o primeiro ou a primeira, o importante é abrir caminhos’. Acreditamos sempre!”

Programação do 1° Festival Literário Pretinhas 

A primeira edição do Festival Literário Pretinhas contará com Feira Literária com expositoras autoras negras; Oficina de Grafite inspirada no livro “Minha Mãe é Negra Sim”; Oficina de Dança baseada no livro “Betha, a bailarina pretinha”; Oficina de Musicalidade com inspiração na obra “A menina e o tambor”; Oficina de Brincadeiras Africanas inspiradas no livro “As brincadeiras africanas de Weza”; Oficina de tranças com base na obra “Os mil cabelos de Ritinha”; Oficina de Artes Plásticas com inspiração no livro “Da Cor que eu Sou”; Apresentação Teatral “Era uma vez… Chapéuzinho Vermelho”; e Batalha de Slam das Pretinhas com apresentação de Matriarcak. 

Vilma Queiroz comenta sobre a Batalha de Slam das Pretinhas: “O Festival Pretinhas acontece na periferia, surgiu para empoderar as meninas e adolescentes e a poesia periférica que o Slam traz deixa a voz ecoar com relação a violência, atitudes racistas, tristezas, opressões diárias, mostrando que tem solução. É libertador termos voz e cada vez mais termos consciência de que não podemos nos calar.” E completa: “ a Matriarcak é uma das potências femininas em poesia periférica e slam e além de apresentar a Batalha também contará um pouco da sua própria trajetória, sendo ela mesma uma das referências das meninas.”

Acompanhe a programação do Festival Literário Pretinhas no www.pretinhas.com.br

E no @pretinhasoficial no Instagram