Sobre Gordofobia e Saúde Mental
Vivemos em um mundo que vive controlando corpos das pessoas – principalmente de mulheres – e muitas vezes não percebemos o quanto o julgamento em relação ao corpo de uma pessoa pode fazer mal para saúde mental. No momento atual, janeiro de 2024, vimos indignados num reality show homens reunidos falando mal dos corpos das mulheres participantes e que pasmem, não estão nem acima do peso – o que não justificaria o julgamento -, são mulheres com corpos considerados “padrão”, aqueles corpos que costumam ser elogiados e não julgados. E se fossem mulheres “gordas”? Provavelmente o julgamento seria ainda maior afinal a sociedade associa beleza a corpos magros e jovens, como se corpos grandes fossem sempre desleixo, preguiça, falta de noção. E aí adoram dizer que falam que a pessoa tá gorda porque se preocupam com a saúde (só que não! É preconceito mesmo!).
A gordofobia corresponde a casos de pessoas excluídas, inferiorizadas, humilhadas ou que sofrem com atitudes que reforçam estereótipos. E essas questões influenciam não só no tratamento, como também na possibilidade de levar a quadros de depressão e transtornos alimentares. Durante o mês de janeiro, a campanha do Janeiro Branco reforça a importância do cuidado com a saúde mental.
“As atitudes gordofóbicas não levam as pessoas a buscarem tratamento para a obesidade. Pelo contrário, afastam as pessoas dos serviços de saúde, já que despertam o medo de serem julgadas até pelos próprios profissionais de saúde”, afirma a psicóloga Andrea Levy, presidente da ONG Obesidade Brasil, a primeira organização sem fins lucrativos do mundo direcionada a pessoas com obesidade.
Ela ainda diz que pessoas com obesidade grave não encontram serviços de saúde adequados para atendê-los nem sob o ponto de vista de estrutura, como cadeiras e macas, nem muitas vezes sob o ponto de vista de profissionais preparados para receber essas pessoas. Muitas vezes os médicos deduzem que o problema de saúde está diretamente relacionado com a obesidade, sem que seja feita uma investigação mais detalhada da verdadeira causa.
Pessoas com obesidade também se sentem oprimidas no acesso a transporte e espaços públicos e rotuladas como quem não tem força de vontade, mas há poucas opções de academias ou centros esportivos adequados para pessoas com excesso de peso. “A gordofobia ainda pode fazer com que muitos tenham vergonha de procurar um esporte ou uma academia por medo de serem ridicularizados e de ouvirem piadinhas. E isso pode fazer com que eles se afastem do convívio social e até mesmo de atividades como ir à praia ou à piscina”, explica a psicóloga.
Além das atividades pessoais, no âmbito profissional também existe o preconceito, por exemplo, no momento da contratação nas empresas. Recrutadores utilizam justificativas sem sentido para recusar o candidato com obesidade e ainda existem concursos públicos que exigem o padrão IMC (Índice de Massa Corpórea) nos anúncios ou implicitamente. Segundo a ferramenta Data Lawyer, em 2022 a Justiça contabilizava 419 processos envolvendo gordofobia, dos quais, 328 foram ajuizados durante a pandemia (2020 e 2021).
Essas situações dificultam o tratamento da obesidade e reforçam a importância de um acompanhamento psicológico para que os resultados sejam obtidos da melhor maneira. Há também a questão de outros problemas de saúde como ansiedade, transtornos alimentares, depressão, entre outros que podem refletir no consumo excessivo de alimentos não saudáveis, o que acaba agravando a obesidade e a saúde geral.
“A obesidade é uma doença crônica e multifatorial, dependente de genética, ambiente e está estreitamente ligada às questões de saúde mental. Sabemos que quanto mais grave é a obesidade, maior é a chance de a pessoa ter quadros de transtorno do humor, como a depressão, ansiedade, transtornos de personalidade que podem ser desencadeados ou agravados pelo comprometimento da qualidade de vida que a própria obesidade gera. Portanto, o quanto antes for iniciado o tratamento, melhor será o prognóstico”, conclui Andrea.
Apenas parem de julgar corpos. Deixem os nossos corpos livres, independente de tamanho, gostosura, altura, idade, e outros. Nem sempre a pessoa magra tão elogiada é mais saudável que a pessoa gorda sempre detonada.
Todas, todos e todes devem cuidar da saúde, não por questão estética, e sim porque precisamos de saúde para viver com qualidade de vida e bem-estar. Afirmar que pessoas acima do peso são doentes e magras são saudáveis é rotular corpos e aumentar o bullying.
Se cuide! Faça check-up, viva do jeito que desejar viver, respeitando seu corpo, sua saúde, e acima de tudo amando você mesma, independente de julgamentos externos – inclusive de médicos gordofóbicos (existem diversos casos).
A magra aqui (peso 50 kilos), que sempre teve dificuldade para engordar e a saúde nunca foi das melhores, já trabalhou bastante com pessoas “acima do peso considerado padrão” e sabe que não é uma questão simples. São diversos fatores a serem considerados, incluindo acabar com o estigma de que pessoas gordas são doentes ou serão doentes por causa de seus corpos.
Diga não a gordofobia e a todos os julgamentos em relação aos corpos de pessoas. E caso necessário procure ajuda médica e psicológica. O seu corpo é seu e só diz respeito a você mesmo.