A mãe que eu Sou, mesmo sem ser Mãe!
Hoje, 8 de maio, é Dia das Mães e esse ano está complicado lidar com essa data, já que é o primeiro Dia das Mães depois que minha mãe morreu (em 31 de maio de 2021) e também o ano em que tenho a certeza de que muito provavelmente não serei mãe biológica/genética nessa vida terrestre e ser Mãe, gerar uma vida dentro de mim, acompanhar as alterações nos meus corpos físico, emocional e espiritual por carregar um ser dentro do meu útero, era até então o maior dos meus sonhos.
Mas esse não será um texto triste e desmotivador, pelo contrário, quero que seja leve e que questione os conceitos da maternidade e do que significa ser mãe!
Na sociedade patriarcal que vivemos basta nascer mulher para que todos tenham a expectativa que um dia aquela menina se tornará mulher, se casará e terá filhos. Como se fosse a única opção de escolha de vida para quem nasce do sexo feminino.
Aquelas que não engravidam por motivos de infertilidade são vistas como coitadas que devem fazer tratamentos para engravidar ou adotar crianças; as que não desejam ser mães são vistas como Más, afinal que mulher não deseja ter filhos?; para cada mulher, para cada escolha em relação ao ser mãe há um julgamento, um adjetivo maldoso. E para aquelas que são mães na vida real há o romantismo da maternidade, a exaustão, a falta de ajuda, mas mão são vistas sempre como heroínas, guerreiras que geraram filhos, etc. E aí da mãe que ousa mostrar o lado B da maternidade, a falta de rede de apoio, o cansaço, a vida real na vida de uma mulher que é mãe, são julgadas e condenadas por estarem maldizendo a grande benção de serem mães.
Eu sempre desejei ser mãe, e que eu saiba eu poderia ter sido mãe, afinal não sou infértil, mas nunca quis me casar, não acho que para ser mãe precise necessariamente ter um marido, enfim, existem outras formas além da tradicional família composta por uma mãe, um pai e filhos(as). Só que não rolou engravidar da forma natural (também vale lembrar que sou a louca da camisinha, sexo pra mim tem que ter camisinha para evitar qualquer DST), demorei muito para considerar a possibilidade de fertilização, etc, talvez porque por maior que fosse meu desejo de ser mãe, eu acredito e levo a vida acreditando que as coisas acontecem quando devem acontecer e que não adianta apressar o rio (a vida) porque ele corre sozinho.
E sobre ser mãe, sem ser mãe? Eu sou extremamente maternal, amo crianças e elas geralmente me amam também. E o meu melhor papel na vida é o de tia, ok, mas tia não é mãe. Sim, tias não são mães, mas hoje pela manhã quando uma das minhas irmãs que é mãe de dois me mandou mensagem de Feliz Dia das Mães porque sou também mãe dos dois filhos dela, a minha ficha caiu. Maternidade é muito mais que carregar uma vida dentro do seu corpo. Maternar é Cuidar de outra vida com amor, com respeito, com atenção, independente desse ser ter sido gestado por você mesma.
Em Dias das Mães passados, já há alguns anos, minha sobrinha number 1 e o sobrinho, os dois filhos da minha mãe que hoje me desejou Feliz Dia das Mães, me emocionaram a expressar com amor que também sou mãe deles. Meu sobrinho uma vez falou: Suzana, veja como é injusto, tanta mãe que não sabe ser mãe e tem filhos e você que é uma ótima mãe não tem filhos. Outra vez me deu uma flor de papel e me disse: A flor é papel porque a de papel não morre. É meu presente de Dia das Mães pra você.
Quem nunca ouviu a expressão: Mãe é quem cria? A frase é legal, mas na vida real não é muito assim não, é mais uma frase de efeito, politicamente correta, para falar para mães que adotaram crianças.
Ser mãe é muito mais que parir uma criança ou até mesmo de criar alguém, ser mãe não é padecer no paraíso, não é a melhor coisa da vida para todas as mulheres mães, mulher não é sinônimo de mãe e nem toda mulher tem instinto maternal, deseje ser mãe e tá tudo bem, afinal cada mulher deveria ter poder sobre sua própria vida e seu próprio corpo, incluindo a vontade de não ter filhos.
Maternidade é Amar, é Cuidar, Respeitar, Orientar, Criar para o mundo e a vida, mas querer ter sempre pertinho de ti, é saber que por mais que seja seu filho ou filha não é você quem decide a vida dele e traça seu futuro, seu papel é guiar, mas não decidir ou obrigar a seguir isso ou aquilo.
Eu sempre sonhei em ser mãe de menina, eu amo ser mulher, eu honro o meu sagrado feminino, minhas ancestrais e adoraria ter pelo menos uma filha. Quando era jovem dizia que minha filha chamaria Costanza, e todo mundo tirava sarro, achava feio o nome, quando fiz 30 anos sonhei que estava grávida e ia sozinha para maternidade, via o parto, era uma menina e eu a chamava de Carolina. Quando contei o sonho minha amada e saudosa mãe respondeu: tá vendo, até a alma da sua filha tá vindo te avisar que não quer chamar Costanza. Carolina é muito mais bonito. E então passei a esperar a hora de ter a minha Carolina, mas a Menopausa chegou antes da gravidez, mas eu estou na idade da menopausa mesmo, tenho 51 anos.
Quando tinha 48 anos e resolvi que minha prioridade seria tentar ser mãe, minha mãe me alertou com toda ternura do mundo: se demorar mais tempo você será como avó da sua filha ou filho.
Só uma vez na vida achei que estava grávida (no fim de dezembro de 2020), fiz exame de farmácia e deu positivo, mas como boa virginiana com ascendente em Capricórnio não quis me empolgar muito e nem sair anunciando antes de fazer exame de sangue e de urina em laboratório. O primeiro exame deu inconclusivo pois uma das tais taxas que indica gravidez estava alterada, mas era uma alteração ainda baixa, o segundo uma semana depois, deu negativo. Para mim, eu estava grávida e tive um aborto natural. Nunca contei isso para o cara que poderia ser o pai, só contaria depois de ter certeza da gravidez.
O fato é que minha última menstruação foi em novembro de 2020 e depois até menstruei em janeiro de 2022, já tinha passado um ano sem menstruar e sentindo todas as dores que a menopausa traz para a vida da mulher. Quem sabe um dia eu aprenda a lidar com a menopausa de uma forma mais leve e porque não até maternal, acolhendo mais esse ciclo da vida de toda mulher, porque ser mãe é ser acolhimento, sem julgamento, sem passar a mão na cabeça, é ser firme sem perder a ternura.
Feliz Dia das Mães para mães que sabem ser mães mesmo se não forem mães biológicas e que as mulheres que não são mães por opção, escolha ou porque não rolou por algum motivo não sejam julgadas e massacradas por não terem filhos.