Cinquentona, plena, sexy e empoderada!
Sabe aquela imagem antiga de uma mulher de 50 anos, com roupas sóbrias e um estilo de vida mais sossegado e caseiro? Digno de uma mulher de “meia idade”? No meu caso essa mulher não existe e nos tempos que vivemos mais e mais cinquentonas mostram ao mundo que poderiam ser chamadas de novas “Balzaquianas”. É a força das #cinquenteen que assumem quem são, não querem ser eternamente jovens, sabem que envelhecer faz parte do processo de estar viva há algumas décadas e que o tempo traz rugas, marcas, cabelos brancos e também vivências, sabedoria, experiências de vida que fazem a diferença.
Mulheres que se Amam são belas e sexies em qualquer idade, em qualquer tempo e lugar, porque a #realbeleza não tem a ver com padrões estéticos e aparência. A beleza real está intimamente ligada a autoestima, ao amor-próprio, ao se sentir bela, a luz que você emite em sua volta. Mulheres plenas, empoderadas, sexies – de qualquer idade – são iluminadas e reconhecem sua própria luz. Sabem que sua beleza vem da felicidade que sentem em ser quem são com qualidades e defeitos.
Uma história de amor a si mesma…
Fui uma criança e adolescente que sofreu bullying por causa da aparência que fugia e até hoje foge dos padrões de beleza convencionais (magrela, cabelos crespos, óculos fundo de garrafa, bota ortopédica – isso quando era criança). Com isso, vivia me escondendo, manja aquela pessoa que é um cabide pra roupa?, usei muita roupa oversize para esconder a magreza e a falta de bunda e de peito, até hoje não gosto muito de roupas coladas no corpo, nada que evidencie demais o meu corpo – uso em ocasiões específicas e quando estou com a autoestima nas alturas. Na verdade, dos 20 aos 24 anos, morando em Santos e fazendo faculdade de jornalismo foi quando comecei a me mostrar mais ao mundo e usar umas roupas que valorizassem meu corpo, e depois quando morei um ano em Londres.
Nesse processo todo, não me sentia digna de ter um relacionamento amoroso com um homem bonito, bacana, sentia que o cara assim seria muita areia para o meu caminhãozinho. Ok, nunca tive o real desejo de casar porque tenho a alma e o coração livres e do tamanho do mundo que é pra caber bastante gente. Liberdade talvez seja a palavra que melhor me defina.
Mas a gente tem instintos, desejos, e uma sociedade que insiste em reforçar a ideia que uma mulher para ser feliz precisa ter um homem ao seu lado. Por mais rebelde e decidida que sempre fui, ao 10 anos respondi para meu pai que não sabia se queria casar, mas se casasse não seria na Igreja Ortodoxa (o sonho do meu pai era casar alguma filha lá, e como sou a mais velha é lógico que na cabeça dele me casaria antes), por não concordar com uma frase da cerimônia: o homem é o cabeça do casal. Aos 10 anos já achava de um machismo absurdo! Como assim, o homem é o cabeça do casal? Não existe cabeça do casal, relacionamento tem que ter igualdade entre ambos.
Enfim, me meti em várias furadas amorosas, muitas paixões platônicas – na minha cabecinha rolava: claro que o bonitão não vai querer nada com a moça que não enche uma cama e não tem carne para ser agarrada (ouvia que homem gosta de mulher que preencha uma cama, que tenha carne para apertar) -, vários relacionamentos casuais e cada vez mais a certeza de que nasci pra ser solteira, por convicção, por amar ser alma livre, que não tem que dar satisfação sobre sua vida pra ninguém. Pelo menos, tenho ótimas histórias para contar para sobrinhas e sobrinhos., afinal sou a tia solteira, empoderada, livre, com espírito jovem e mais experiência sexual e a cabeça aberta para falar de qualquer assunto. E toda essa reflexão aconteceu apenas por estes dias.
Ensaio Bourdoir
Foi apenas com cerca de 45 anos que comecei a realmente me amar e a trabalhar minha autoestima, a aceitar cada pedacinho de mim mesma. Muito por conviver por causa do trabalho com mulheres gordas que se amam e que são ativistas contra gordofobia e os padrões de beleza que limitam corpos. Eu ia para o Fashion Weekend Plus Size, organizado e dirigido pela Renata Poskus, e via aquelas mulheres lindas e felizes com seus corpos e me inspirava em suas histórias que na maior parte das vezes tinham episódios de bullying muito mais pesados dos que os que eu sofri e elas superaram e brilham por aí.
A primeira vez que ouvi falar em ensaio fotográfico como ferramenta para trabalhar autoestima e empoderamento foi da Renata Poskus e seu projeto “Dia de Modelo”, mas ainda não me sentia no momento de me curtir em fotos (na verdade eu meio que fugia de ser fotografada. Hoje é até difícil acreditar que um dia eu detestei ser fotografada).
Aí quando voltei a morar em Santos e comecei o blog é que comecei a me soltar mais e me fotografar e deixar ser fotografada.
Então quando o blog fez um ano, em 2018, eu aos 48 anos fiz meu primeiro ensaio fotográfico e amei o resultado das fotos no Centro Histórico de Santos. Fotos clicadas pela maravilhosa Raquel Gomes. 2018 foi um dos melhores anos da minha vida em valorização de mim mesma, autoestima, amor-próprio, com o resgaste da minha mulher selvagem e a aceitação do meu corpo mignon, da minha sexualidade mais pro natural do que pra montação ou estereótipos do que é ser uma mulher sexy.
Aí, depois da pauleira da pandemia, minha mãe doente, o falecimento de minha mãe e de outras pessoas queridas, pensando no meu aniversário de 51 anos (em 15 de setembro) eu tomei a decisão de me presentear com um ensaio sensual ou Bourdoir, inspirada em uma foto de uma das minhas musas feministas: Simone de Beauvoir, em que aparece nua, em frente ao espelho.
Desde o princípio sabia o conceito do que desejava para o meu ensaio sensual: marcar o meu processo de amor-próprio, de trabalhar autoestima diariamente, de aceitação do meu corpo que traz marcas da passagem do tempo e o efeito da gravidade para mim mesma e também como uma forma de mostrar e levar o meu discurso de empoderamento feminino e da real beleza para outras mulheres de qualquer idade, mas principalmente para aquelas da minha faixa etária, que como eu enfrentam as mudanças da pré-menopausa ou já estão nela.
Foi o melhor presente que poderia me dar! Passei o dia do meu aniversário feliz, me amando muito, curtindo ser fotografada aos 51 Uaus como batizei o meu ensaio. A fotógrafa foi a Raquel Gomes, formamos uma dupla bem afinada.
Agora algumas das fotos do ensaio.
Para mais algumas imagens e legendas explicativas sobre o ensaio Bourdoir confira meu instagram @suzanices