De Vila Operária a Belmiro, bairro referência para o futebol completa 111 anos
Que eu amo morar em Santos quem me acompanha sabe, assim como sou torcedora do tima da cidade que faz meu coração vibrar! E como adorei saber mais sobre o bairro que sedia o Templo Sagrado do Futebol (independente de time, quem ama o esporte futebol sabe e reconhece os méritos do Alvinegro Praiano que foi o time do Rei e de grandes craques como Pepe – Canhão da Vila – , Zito, entre outros, além de ser o único time do mundo que parou uma guerra).
A atmosfera é de cidade do interior, com árvores floridas em frente às residências, vizinhança em bate-papo nos portões dos sobrados, moradores sentados em cadeiras de praia postas em frente às casas, vielas sem saída, comércio popular. Ao mesmo tempo, um imponente estádio, palco da história do futebol, e ruas que levam nomes de personalidades como Princesa Isabel, Dom João VI, Álvares Cabral, Dom Pedro I e Tiradentes.
Bairro residencial bastante conhecido pelo time do Santos, a Vila Belmiro completa 111 anos de fundação neste domingo, 14 de fevereiro, e conta com cerca de 8,6 mil habitantes, no quadrilátero das avenidas Ana Costa, Pinheiro Machado, ruas Carvalho de Mendonça e Joaquim Távora, uma área de 636.116,64m².
Conhecido antigamente por Vila Operária, por abrigar chácaras de japoneses que produziam tomates e funcionários de empresas instaladas na Vila Mathias e Jabaquara, o nome do bairro é uma homenagem ao ex-prefeito Belmiro Ribeiro de Morais e Silva, que exerceu o cargo entre 1911-1914 e entre 1917-1920. Foi ele o responsável pelo loteamento da Vila Operária, hoje Vila Belmiro.
O bairro surge na primeira década do século 20, em um momento em que a Cidade estava em processo de transformação, se desenvolvendo com o porto, com a presença de migrantes e imigrantes e de cortiços, explica o historiador da Fundação Arquivo e Memória de Santos (Fams), José Dionísio de Almeida. “Nessa época, em várias partes do País, inclusive em Santos, se discutia o conceito de vilas operárias, um modelo novo de abairramento para condições melhores de moradia em combate aos cortiços. É nesse contexto que entra o Belmiro Ribeiro, sócio da Companhia Construtora de Santos e da Companhia de Armazéns Gerais, um homem de grande influência. Ele adquire essa gleba na região da vila e começa a construção do bairro”, afirma.
CINEMA, NOVELA E COMÉRCIO
Foi na Vila Belmiro que, na década de 1940, nasceu o primeiro cinema de bairro da Cidade, o Cine Avenida, na Av. Bernardino de Campos, e instalada uma fábrica da Coca-Cola. O bairro também foi cenário para a primeira versão da novela Éramos Seis, com os atores Nicete Bruno e Gianfrancesco Guarnieri. A casa onde foram gravadas as cenas é a primeira feita de concreto armado, datada de 1910, e fica na esquina das ruas Dom Pedro I e Paissandu.
A partir de 1990 começam a surgir alguns edifícios e o comércio fica mais evidente. Hoje, preservando sua característica de bairro residencial, com 3.862 imóveis (verticais e horizontais), conta com 21 escolas, sendo uma municipal, duas estaduais e 18 particulares, e 60 bares, restaurantes e lanchonetes.
BAIRRO QUE ESTREMECE
Em 12 de outubro de 1916, a Vila Belmiro ganhou o estádio de futebol do Santos Futebol Clube, um dos mais antigos do Brasil e palco de partidas históricas. O universo futebolístico ecoa em todo o seu entorno: bem em frente, há a Estátua do Zito, ex-jogador do time, falecido em 2015, e o famoso bar do Alemão, ponto de encontro de torcedores, cujo dono é torcedor-símbolo do Alvinegro Praiano, com suas tatuagens relativas ao clube pelo corpo.
Em dias de jogo, o pacato bairro “estremece”, diz a atriz e psicóloga Thays Ayres, 40, que da janela de sua casa, onde mora há 25 anos, consegue ver o intenso movimento. “É um lugar tranquilo e agitado ao mesmo tempo, porque o bairro estremece em dias de jogo. Embora tenhamos casas antigas e de belíssimas arquiteturas, a beleza das pessoas nas calçadas, dos vizinhos que se conhecem e que moram há muito tempo aqui, temos esse contraponto da agitação quando chegam os torcedores. É divertido e dá movimento ao bairro”.
Para ela, o local oferece facilidades para quem ali vive, com comércio de bairro, padarias e farmácias. “É bem equipado e ainda conserva as características de uma cidade pequena. Gosto muito de morar aqui, é um bairro acolhedor, que a gente se sente pertencente”.
NA TRADICIONAL BARBEARIA, DIDI ACERTOU TOPETE DO REI
Na Rua Delfino Stockler de Lima, uma barbearia antiga e pequena é tradição no bairro. Na fachada, a frase ‘Cabeleireiro do Pelé e de você também – Didi’ já mostra a responsabilidade de João Araújo, mais conhecido como Didi, 82 anos, o barbeiro do Pelé desde 1956. Senhor simpático e de jeito simples.
Junto aos seus certificados de cabeleireiro, a decoração de sua barbearia é composta de muitas imagens de Pelé e outros jogadores, bolas, chuteiras e reportagens enquadradas nas paredes. Ali, em cada objeto, memórias.
Na ativa há mais de 70 anos, Didi coleciona histórias, muitas das quais não é mais capaz de lembrar, como ele diz, mas que as guarda no coração. Uma delas, lembra bem, afinal, acertou o corte de cabelo do Rei. “Pelé, quando chegou, queria cortar o cabelo com um topete, mas ninguém acertava do jeito que ele queria. Eu falei que ia tentar e que, caso acertasse, ele virava freguês. Cortei e ele gostou muito. Um dia, mudamos um pouquinho, fizemos o corte do cabelo clássico e ele gostou também. Acertei o topete e ele nunca mais quis largar. Virou frequesão até hoje”, conta.
Outros jogadores fazem parte da lista de clientes de Didi – Pepe, Mengálvio e Coutinho, quando era vivo. “Qualquer barbeiro e cabeleireiro gostaria de ter fregueses como esses. Por isso, fico muito orgulhoso e faço o trabalho com carinho. Afora eles, tenho uma freguesia fiel, graças a Deus”.
NA PACATA PRAÇA, A LIBERDADE DE BRINCAR
A Praça Olímpio Lima é diversão certa para o pequeno Yan Lucca, 4. Seu pai, o professor de fotografia Fabrício Costa, 42, leva o menino quase todos os dias pela manhã para brincar em liberdade e perto da natureza das árvores da praça, que atraem aves como periquitos e maritacas. O lugar é um charme do bairro, com suas casas ao redor, típico cenário interiorano.
“Desde o início da pandemia, trago ele pela manhã para jogar bola.É saúde mental para nós dois e um momento de entrega também. Essa praça ensina muito a ele”, fala Fabrício, que considera o bairro familiar. “É um bairro muito humano, as pessoas colocam as cadeiras na calçada, fazem piquenique na praça. É muito agradável”. Enquanto isso, Yan se pendura na árvore, brinca no balancê e corre.
Bem em frente dela, há 12 anos mora o aposentado Nelson Nocera, 80, com a esposa. Todos os dias ele passeia pela praça com a cadela Penélope. “É um bairro bom, tem tudo perto, mercado, farmácia, posto e policlínica com ótimo atendimento. Gosto muito de morar aqui. Você se sente em casa”, brinca.