Alunas de graduação criam marcas-conceito que empoderam mulheres negras
Eu amo divulgar iniciativas bacanas que valorizem mulheres, então adorei saber da história de duas alunas de graduação em moda que escolheram trabalhar com moda afro em seus TCCs e ajudar na autoestima através das roupas e acessórios. São ações assim que merecem e precisam de maior divulgação.
Duas alunas resolveram usar seus trabalhos de conclusão de curso para empoderar mulheres negras. Nicolly Primo e Lorena Rocha Vieira, alunas do curso de Design de Moda do Centro Universitário IESB, precisavam criar uma marca ao final da graduação e decidiram se dedicar à moda afro. Começaram pesquisando turbantes e descobriram uma forma de ajudar na autoestima das mulheres.
Segundo dados do IBGE, a maioria da população brasileira (54%) é composta por pretos e pardos. A cada 10 brasileiros, 3 são mulheres negras. Ainda assim, elas sofrem com preconceito, menores salários e falta de representatividade. Segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em 2016 as mulheres negras ganhavam, em média, 40% do salário de homens brancos.
A cultura negra está intimamente relacionada à moda, que pode ser uma grande ferramenta para o empoderamento e resistência. Por isso, as alunas estão estudando, em seus trabalhos de conclusão de curso (TCCs), como utilizar o design para valorizar a cultura afro e como ajudar a mulher a conquistar o mercado de trabalho.
“No TCC do nosso curso, temos que criar uma marca, e eu decidi criar uma marca de moda afro”, disse Nicolly. “O turbante é uma peça que significa muito para mim. Para pessoas negras, ele tem um significado de resistência, de se sentir mais forte, e também é um símbolo religioso”, continua.
Nicolly pesquisou o uso do turbante em três países africanos: Malawi, Gana e Nigéria. A peça é essencial em todos, mas existem diferenças quanto ao seu uso, principalmente em relação ao tamanho. Gana é mais conservador, e os turbantes usados são os menores das três nações. Na Nigéria, eles são grandes e com cores chamativas, e as mulheres costumam decorá-los com joias. Já em Malawi, seu uso se dá principalmente por motivos religiosos.
No Brasil, segundo a aluna, o uso da peça tem uma ligação direta com a prática africana. A Bahia é uma das regiões onde mais se veem turbantes, tanto como um acessório de moda quanto um artigo religioso no Candomblé, na Umbanda e no Xangô. O turbante carrega um simbolismo poderoso, mas nem sempre é fácil encontrar essa vestimenta.
“Eu entrevistei muitas pessoas que usam e pessoas que querem usar. O problema é que aqui em Brasília não tem muitos lugares onde comprar, e os preços são caros” conta Nicolly. “Quando as pessoas querem homenagear os negros, elas o fazem só no dia da consciência negra. Eu quero homenagear todos os dias. Minha marca, que se chama Naña, vai trazer turbantes com estampas próprias, com peças mais baratas, mais acessíveis, para que todos possam comprar. Outra característica é as roupas se transformarem em outras. Um macacão se transforma em um vestido, e a cliente pode fazer amarrações embaixo. Eu escolhi fazer as peças assim porque o turbante pode ser feito com várias amarrações, e foi uma forma de trazer esse tema para outras roupas”, conclui.
“A finalidade do design é procurar um problema e encontrar uma solução”, conta Lorena, que também está criando uma marca-conceito de moda afro, chamada Cais. “As mulheres negras recebem salários menores para os mesmos cargos. Eu, como mulher negra, filha de mulher negra, neta de mulher negra, sei que minha família teve que trabalhar muito para chegar em algum lugar. Dependendo da roupa, do cabelo, você recebe um tratamento diferente”, continua.
Lorena acredita que a moda pode ajudar mulheres negras a conquistar seu espaço no mercado de trabalho e sua marca traz roupas que dão voz, poder e notoriedade.
“São roupas com cores que combinam com vários tons de pele, já que o Brasil é um país com essa diversidade. Elas têm um acabamento impecável de alfaiataria, com tecidos crepe, imponentes. Os recortes valorizam, mas fogem do clichê da hiperssexualização da negra”, diz a estudante. “Além disso, o conceito de loja para a marca também traz o empoderamento. Queremos empregar mulheres negras, já que a indústria da moda é feita por mulheres. Queremos, ainda, dar palestras, trabalhos de coaching e bem-estar. Mais do que se vestir, é se sentir, e o que eu vejo nas minhas pesquisas é que uma marca que não tem um propósito não tem muito lugar hoje em dia”, afirma Lorena.
Eu amei as propostas das garotas e desejo muito sucesso para as marcas. E concordo com a Lorena: marca sem um propósito não tem muito lugar hoje em dia. Assim como na vida!