Dia dos Avós: amor ao quadrado!
Hoje, 26 de julho, é comemorado o Dia dos Avós e eles merecem todo amor do mundo e um pouquinho mais! Avós são fundamentais na formação de seus netos e na forma como as crianças aprendem a trabalhar com as emoções.
Não tenho mais nenhum dos meus avós vivos, mas os carrego comigo, no coração e nas ótimas lembranças que tenho deles.
Meu avô materno, Roberto Elias, não cheguei a conhecer, mas tenho uma ligação forte com ele e sua história e sinto que talvez seja a mais parecida com ele em pensamentos de vida e ações também. Ele morreu 10 dias após meu nascimento e morreu preocupado comigo, pois nasci prematura, com baixa imunidade, anemia e os médicos falaram que era bem fraquinha, que talvez não passasse de um ano de vida. Minha avó Lydia Tumani Elias me contou durante toda sua vida que meu avô negociou com Deus a minha vida pela dele, pois ele dizia que ele já tinha vivido bem, tinha filhas todas casadas, netos, enfim, e eu era a primeira filha dos meus pais que tanto desejavam ser pais e que teria uma vida inteira pela frente. Eu nasci em 15 de setembro de 1970 e ele morreu em 25 de setembro, dormindo (pra mim a melhor morte, parece que não sofre quem morre dormindo, e acredito que seja mérito concedido apenas para pessoas muito boas). Sou virginiana e ele também era, seu aniversário era em 10 de setembro. Segundo minha mãe tenho um temperamento muito parecido com o dele. E só recentemente descobri que meu avô Roberto nasceu em Santos – sua mãe veio grávida da Síria e ele nasceu em Santos, local do desembarque dos imigrantes – e que tinha um carinho especial pela cidade que até era sócio do Santos Futebol Clube, seu segundo time. Talvez venha daí o enorme amor que tenho pela cidade de Santos. No meu caso o Santos Futebol Clube é o meu primeiro e único time. Ele gostava de escrever como um diário noturno, não só sobre o dia passado, mas pensamentos sobre a vida e principalmente sobre o perdão, o amor a a generosidade. Assuntos que também me empolgam. Alguns destes textos foram reunidos em um livro no aniversário de um ano da sua morte e leio e releio este livro sempre. Me identifico muito com o que está escrito lá. Até a nossa oração favorita é a mesma: a oração de São Francisco de Assis. Minha mãe conta que meu avô que morava na casa onde depois morei com meus pais até 1997, que tinha um jardim grande na frente, sempre dizia que não podia negar comida a ninguém e os moradores de rua da região já sabiam disto então todo dia alguém tocava pedindo comida e meu avô fazia questão que fosse dada comida e que algumas vezes, chamava estes moradores de rua para comer ali no jardim da casa ao invés de simplesmente dar a comida em potes de sorvetes. Mais que o ato de dar alimento era um ato de alimentar com o mínimo de dignidade.
Meu avô paterno, Salim Azar, era um figura, andava sempre bem arrumado, adorava vestir look total branco que realçava a pele morena do libanês. Na minha adolescência ele ajudou muito meus pais a lidarem com as filhas dando conselhos modernos e a gente amava quando ele intervinha para serem mais flexíveis – lembro que ele dizia para termos camisinha com a gente e meu pai ficava bravo e ele só respondia: melhor prevenir. Eu sempre fui magra – na infância e adolescência era bem mais – e meu avô Salim, o típico árabe me dizia: “Você é muito magrinha, precisa engordar porque homem gosta de mulher que preenche uma cama”. Meu nome Suzana é em homenagem a minha bisavó paterna, mas meu avô nunca me falou muito sobre ela. Só sei que era uma libanesa bem porreta que foi mãe de leite de várias crianças na aldeia onde morava – pois tinha muito leite – e que era poetisa e escrevia para uma revista. Meu avô dizia que ela era uma mulher forte e brava também.
Ah, as minhas avós. Duas mulheres fortes – cada uma a seu modo – e que tanto me ensinaram.
Minha avó paterna e minha madrinha Júlia Elias Azar era uma pessoa extremamente boa. E sim, ela era irmã de meu avô materno. Meus pais são primos. E a caridade e generosidade parece estar nos genes da família Elias.
Minha avó Julia ajudava todo mundo e eu vivia agarrada na barra da saia dela. Tinha uma admiração profunda por ela e algumas das cenas que mais me lembro da infância é que ela todo ano preparava uma festa com doação de cestas básicas e brinquedos para os moradores de uma favela perto da fábrica de lenços da minha família e ela fazia questão que a gente participasse. Eu amava acompanha-la na distribuição dos presentes.
Minha ligação com ela era tão intensa que tinha gente que me chamava de Julinha, por eu ser tão parecida com ela. Quando ficou doente a preocupação de toda família era como eu reagiria quando ela morresse. Ela morreu em novembro de 1985. Eu tinha 15 anos e segurei bem a onda. Anos mais tarde, em uma crise de depressão muito forte, foi a imagem dela que me salvou de cometer uma loucura. Eu a vi muitas vezes perto de mim, em situações complicadas. Diferente de muita gente que acha que não é bom reverenciar nossos antepassados eu acredito no contrário: eu homenageio e honro a memória de meus ancestrais, para mim, meus avós são meus santos particulares, que intercedem junto a Deus em meu favor e que me cuidam lá das estrelas.
Minha avó materna Lydia Tumani Elias – a última a falecer, em 2000. Sinônimo de bom gosto e elegância e também de modernidade. Ela costurava e fazia chapéus e tinha um olhar apurado para coisas belas. Uma das melhores memórias que tenho é de um cruzeiro de um mês para o Caribe que fiz com minha avó Lydia em 1994. Ela viajava todos os anos – acho que faltou muito pouco pra conhecer o mundo inteiro – e fazia anos que viajava no cruzeiro da linha Costa para o Caribe e já tinha os amigos das viagens. Naquela época cruzeiro era coisa de gente chique e com dinheiro. No ano anterior ela passou mal na viagem e não tinha ninguém da família com ela, foi socorrida e tudo bem, mas aí as filhas resolveram que ela não viajaria mais sozinha. Coitadas das filhas, achavam que podiam com a matriarca. Ela respondeu que a vida era dela, o dinheiro era dela e ela fazia o que queria e que iria sim viajar novamente. Eu estava me formando na faculdade, sou turma de 1993, e meu pai então propôs: Su ao invés de te dar um anel de formatura que tal te dar a viagem com sua avô para o Caribe assim terá alguém da família com ela. Lógico que eu amei a ideia e foi uma das melhores viagens da minha vida. Minha tias só comentaram: será que vai dar certo, isto A mamãe gosta de beber e a Suzana também, a mamãe fuma e a Suzana também, vai ser uma bagunça. E sim, foi uma bagunça das boas. Tomávamos vinho em todas as refeições no navio e cerveja nas praias. Minha avó me deu a ficha de todos os caras solteiros do cruzeiro afinal era sempre a mesma turma que viajava e ela conhecia todo mundo e me disse assim que embarcamos em Santos: você não é minha babá, você veio se divertir também e não precisa ficar o tempo todo comigo, faça amizades e curta a juventude! Assim eu fiz e ela adorava me ver com a turma jovem do navio. Tenho roupas que eram dela que eu uso até hoje e amo demais!
Enfim, quando me enchem a paciência sobre fumar cigarros eu respondo: na minha família é tudo diferente – meu avô materno e minha avó paterna que não fumavam morreram cedo e meu avô paterno que fumava mais um maço por dia de Hollywood e minha avó materna que fumava morreram mais tarde, então não preciso me preocupar.
Vejo a linda relação que meus pais possuem com seus netos e o quanto são importantes na vida dos meus sobrinhos e agradeço pela maravilhosa família da qual faço parte. Gratidão aos meus avós! Feliz Dia dos avós aonde quer que estejam.