Torto: mais que um bar, um local cheio de histórias

Torto: mais que um bar, um local cheio de histórias

Ontem fui pega de surpresa com a notícia de que o Torto, bar que tem 33 anos, sempre no mesmo local, em Santos vai fechar porque o proprietário do imóvel não teve interesse em renovar o aluguel. Assim como muitos me senti órfã. Não é apenas mais um bar que fechará as portas, mas um local que tem muito a ver com a cena musical e cultural de Santos. Tanta gente, tantas bandas começaram a tocar lá antes de despontar para o mainstream. Tanta gente se conheceu lá, namorou, casou e continuou frequentando o Torto.

Já levei vários amigos meus que não de Santos para conhecer o Torto, o bar embaixo de um dos prédios mais tortos da orla santista, daí o nome, e que consegue receber desde os bichos grilos até os roqueiros e todas as tribos se divertem seja em noite em que os públicos se misturam ou cada um na sua night predileta.

Uma vez conversando com outras mulheres em frente ao Torto enquanto fumava meu careta Marlboro Light chegamos a conclusão que uma das melhores características do Torto para mulheres é o fato que lá podemos ir tranquilas, sem medo de babacas ficarem nos assediando. Pode até rolar paquera e pegação por lá, mas aquela coisa chata de homens sem noção assediando de forma ostensiva não rola. Emfim, um local onde podemos ir inclusive sozinhas – e eu muitas vezes fui mesmo sozinha – e sem se preocupar com o look.

Como não lembrar que lá no início dos anos 1990, quando ainda pensava que poderia dirigir, pegava o carro e ia com uma das minhas irmãs e amigas. Uma vez roubamos o carro da minha mãe para irmos até lá, porque resolvemos ir bem tarde quando meus pais já estavam dormindo e na volta ralamos o carro na garagem, ou seja, tivemos que confessar o roubo no dia seguinte. A diversão era sempre garantida. Cansamos de ir e voltar a pé também. Até hoje, e agora moro mais longe do bar, vou e volto a pé na maioria das vezes. A única vez que me senti perseguida e realmente com medo de que algo pior me acontecesse foi cerca de 2 anos atrás voltando sozinha na madruga, pela avenida da praia, já perto da minha casa, um carro começou a me seguir, devagarinho, o cara me chamando e eu fingindo que nem estava ouvindo. Ele chegou a embicar o carro a cerca de meio metro de onde moro. Sai correndo, entrei no prédio a milhão.

Quantas vezes deixei para voltar para Sampa na segunda-feira de manhã (quem me conhece sabe que detesto acordar cedo e para conseguir chegar no horário para trabalhar na segunda tinha que madrugar) só para curtir o domingo no Torto (na minha opinião o melhor dia de todos).

O local é pequeno, faz um calor animal lá dentro, mas a curtição é maior que os inconvenientes. O bar já teve até o movimento dos sem Torto quando foi fechado um período por questão de segurança (logo após a tragédia de Santa Maria) com apelos públicos para que fosse reaberto e foi. Agora o movimento do Sem Torto não conseguirá reverter a situação, mas quem sabe consegue que o bar se mude para outro endereço. Ok, faltará a aura de “inferninho” underground mas o bar e sua trajetória continuarão a existir.

Mais que um bar que se fecha é um período bacana da noite santista que se encerra. O Torto ficará aberto até setembro de 2017 então bora aproveitar enquanto ainda é possível e guardar na memória as boas lembranças de um bar tão eclético.