Livro História Bizarra da Literatura Brasileira é um convite ao leitor para conhecer os bastidores

Viviane Pereira – especial para o blog Suzanices

 

Quem diria, Guimarães Rosa, que terias tanta ousadia? E você, Pero Vaz de Caminha, negociando liberdade de ladrões…

Foi com esse sentimento de quem está conversando com a vizinha pela janela, sabendo as fofocas e notícias do bairro, que eu devorei as mais de 300 páginas do livro História Bizarra da Literatura Brasileira, de Marcel Verrumo, lançado no dia 24 de maio pela editora Planeta.

O livro é um convite para o leitor acompanhar Marcel nesse desvendar do que há por trás da história de tantos autores de nossa literatura. Ele o faz com a graça de um jornalista e a precisão de um pesquisador, seguindo um roteiro histórico que começa com a carta de Pero Vaz de Caminha, atravessa o Brasil Colonial, o Império, a República, os modernistas e chega aos dias atuais.

Fiquei sabendo do lançamento do livro por uma dessas gostosas coincidências da vida – estava ouvindo a programação da Rádio Cultura quando o apresentador fez uma breve entrevista com Marcel, que comentou algumas histórias, como a do Pero Vaz que enviou a carta a Portugal pedindo a soltura do genro que tinha aprontado das suas em terras além-mar. O lançamento seria logo mais no mesmo dia, eu estava por perto e decidi que não poderia perder. Acertei.

Como jornalista precisava aproveitar a oportunidade de saber um pouco mais o que levou um colega a enveredar por tão curioso caminho. Marcel, autor estreante, ainda se adaptando à nova condição de escritor, contou com seu jeito espontâneo como tudo foi acontecendo tão naturalmente.

Ele era jornalista da Editora Abril e escrevia para a Superinteressante e Mundo Estranho, entre outras publicações, quando surgiu a vontade de pesquisar mais sobre história. Daí para o mestrado em Literatura foi um passo e o convite do seu editor para escrever o livro completou o círculo que levaria o jovem a mergulhar no desafio.

“Ideia genial!”, disse a ele. Enquanto meu cérebro repetia “ideia genial!” Marcel contava que já sabia algumas histórias a partir da segunda metade do século 19, e que o maior desafio foi descobrir fatos do início do Brasil, os anos 1500 e 1600 especialmente.

Como era pouca a bibliografia de fatos curiosos, ele mergulhou em livros, dissertações, teses de mestrado, doutorado e até entrevista fez para buscar boas histórias.

O livro reflete toda essa pesquisa: a cada capítulo ele nos dá dicas de leitura para aprofundar os temas e contextualiza os fatos dentro não apenas do cenário literário, mas do ambiente político e contexto social. E são tantas boas histórias que o leitor fica mesmo com gostinho de quero mais.  A cada referência eu pensava: como ele conseguiu pesquisar e ler tudo isso em dois anos? Não é pouco. Ainda bem, para deleite de quem ler a obra.

É interessante saber um pouco da autobiografia de um escravo que viveu poucas e boas no nosso País. É divertido saber que o primeiro acidente de carro do Brasil foi com um poeta… A 4 km/h!

Para os jornalistas, uma graça a mais com as histórias do nascimento da reportagem, que foi da crônica ao factual.

E o que dizer da história do literato que virou prefeito e acabou multando até o próprio pai? E os seus relatórios eram verdadeiras obras literárias.

Bom acompanhar as agruras de Nelson Rodrigues, os desafios políticos de Monteiro Lobato e o triste fim do poeta que profetizou a própria morte.

Bizarrices não faltam. Então fica o convite para olhar pelo olho mágico da literatura que Marcel Verrumo preparou.

 

Viviane Pereira é jornalista e escritora, membro da Academia Santista de Letras. Autora de Confissões de uma Louca de Amor (que virou monólogo de teatro), Dicionário das Loucuras de Amor (editora Matrix), Heróis da Vida Real (editora Rideel), entre outras obras.